segunda-feira, setembro 04, 2006

bom dia Sr. Eng.

Chega finalmente o dia tão ansiado em que vou começar a trabalhar e logo no primeiro momento fizeram-me a pior coisa que podiam fazer: chamar-me sr. Eng.!

e eu explico o que quero dizer: estas duas singulares abreviaturas, que na verdade poderiam ser utilizadas em sinal de respeito, são na maioria das vezes utilizadas como forma expedita de se dizer : " o Filho da p... que não pára de me lixar a cabeça!". É que nós portugueses somos muito dados a abreviaturas e sempre é mais fácil dizer "sr. eng." e esboçar o sorriso amarelo do que dizer estas palavras todas, principalmente numa linha de produção quando estamos com os auscultadores nos ouvidos e o gajo nem vai perceber bem o que se disse... O sorriso amarelo, como é evidente corresponde ao mostrar do passarinho, mas como na maioria das vezes os operadores têm ambas as mãos ocupadas, os pés a carregar no botão, o cotovelo a empurrar as peças e uma vassoura no cu para irem varrendo o chão, também se compreende (e é encorajado pela viabilidade económica da empresa que usem destes recursos faciais).

E afinal qual é o problema? bem, é que sou de compreensão lenta e prefiro que me digam que não me gramam na cara. Por isso encorajo a tratarem-me pelo nome que a minha mãe me deu (que por acaso até gosto, vá-se lá perceber!), e dizerem logo o que têm a dizer...

É que expliquem-me sinceramente, qual é a ideia de se tratar a pessoa pela profissão? parece que de um momento para o outro, perdi a identidade e no banco é só sorrisos... todos os dias olho para o saldo e sou capaz de jugar que os 5 euros que religiosamente lá se guardam há 8 anos ou mais, não são golden shares e que continuam a valer apenas 5 euros! Estou a pensar em ir ao stand da Mercedes, comprar um carro e pagar com o Sr. Eng! Acham que pega?

Quando estive na faculdade vi muita coisa: vi gajos competentes, incompetentes, simpáticos, antipáticos, inteligentes e burros... vi gajos que bebem como animais, que não sabem preencher um requerimento, que se peidam, que arrotam, que riem, que fumam, etc. E sabem que mais? vejo a mesma coisa em todo o lado...

O que a vide me ensinou é que a inteligência e competência não se medem pela quantidade de partículas antes do nosso nome, e sinceramente prefiro as pessoas que me insultam logo na cara e se dão ao trabalho de saber o meu nome, às que apenas querem que eu as deixem em paz e preferem dar como desculpa o Sr. Eng.!

sem os operadores que vergam a mola todo o dia, que respiram os fumos que nós sabemos os estarem a rebentar todos, que ficam 5 horas na fila do médico por causa daquela dor que nós sabíamos que lhes ia dar, que voltam a casa tão cansados que nem se conseguem levantar do sofá, não haveriam peças, e sem peças, não haveria dinheiro!

Por isso, amanhã espero ser recebido com o meu nome e um aperto de mão, e que se lixem lá os doutores e engenheiros!